Fim de Semana

FIM DE SEMANA

         Mas não tem nada não

         Só tá começando

        O Fim de Semana

        O meu descanso

        E a curtição..

               (Fim de semana - Netinho)

Fim de semana, eu assisti mais um dos milhares de programas que a tevê apresenta sobre os viciados em internet, aqueles debates que nunca servem para ajudar quem realmente tem problemas nessa área, só servem para dar argumentos imbecis para quem quer tirar nosso sossego, achando que estamos isso ou aquilo, fazendo da internet uma droga e de nós usuários, como se estivéssemos jogando a juventude e a vida pela janela! Duvido se na produção destes programas não tem pessoas com problemas bem maiores do que o gosto por se relacionar com gente diferente através de um avatar. Tudo bem, mas para não ficar de consciência pesada, decidi não logar no SL e logar na RL durante o sábado e domingo de folga em casa.

Acordei, coloquei a senha e loguei na Primeira Vida decidido a observar o que eu estava perdendo. Como básico, assistir TV cedinho, saber de novidades, gente feliz, coisas bonitas. Após gastar o controle remoto entre programas religiosos (nada contra), propagandas imensas e repetitivas de produtos e produções independentes de péssimo gosto, o mais “bonito” que encontrei foi um programa de pesca onde o “herói” pescador combatia com o bandido peixe por meia hora. No final, o coitado do peixe, que devia estar de saco cheio, se entregou e depois de fotografado foi solto de volta todo quebrado no rio (?). Não me perguntem onde está a beleza, magia, poesia ou nobreza disso, porque só serviu para dar um orgulho besta para o pescador e tirar o do peixe, mas...

Desliguei com raiva e decidi sair a pé, aproveitar a manhã. Em alguns minutos encontro alguns amigos (acreditem, eu tenho!) num grupinho conversando. Após os rituais sociais básicos (_e aí, tudo bom gente, que friozinho né, _como vai essa força, e as respostas ótimas: _pô você tá engordando (L),_ cadê o cabelo (LL), não fala mais com pobre_ (LLL) me insiro na conversa. Os homens sabem que nestas conversas de fim de semana são limitados os assuntos: mulher, futebol, politica local e carros e depois mulher (é outra), futebol (é outro campeonato), politica local (é sobre outro partido) carro (dos outros) e mulher (de vizinho) etc.. O que? Você se espantou do grande crescimento pessoal que adquirimos nessas conversas. Não fique com esse sorrisinho não porque no grupinho das esposas não era muito diferente, só mudava o assunto, mas a balela era a mesma, homens, moda, mulher dos políticos, homens (das outras), moda (brega das outras) e mulher dos políticos (as amantes) e por aí. Dei uma desculpa esfarrapada e saí correndo e me esquivando dos outros bolinhos de amigos, afinal, se fosse SL eu dava um copy e cola e pronto, porque os assuntos eram os mesmos.

Parece que está na mentalidade da sociedade que no fim de semana precisamos emburrecer, sendo proibido falar sobre algum assunto sério ou evolutivo. Não precisa falar sobre economia internacional ou avanços da medicina, mas poxa, caia bem algum assunto que levasse a reflexão sobre como ajudar ao próximo (não os nossos próximos, tipo, emprego para filho, estágio remunerado no Afeganistão para o cunhado, como ganhar uma dentadura para a sogra, etc...- ah, você pensou que falar de politicas era traçar projetos para a comunidade?- fala sério!).

Acabei chegando à conclusão que o SL me deixou noob de RL. Calma, vou explicar. Antes de entrarmos no SL os assuntos simples e corriqueiros eram algo interessante e a gente sempre procurava saber algo novo sobre as mulheres, futebol ou politica, como se isso fosse fazer alguma diferença na evolução da espécie humana comentar as curvas femininas, o lance do jogo ou a índole dos políticos.

Quando entramos no SL trazemos esses assuntos e nossas conversas tentam girar em torno disso, por isso reconhecemos uma turminha de novatos conversando de longe. Com o tempo nossas conversas passam a serem mais estruturadas, sobre internet, programas gráficos, computadores e vários assuntos que se analisarmos verão que tem tudo a ver com a época que vivemos. Com certeza, uma conversa sobre desenvolvimento virtual seria visto por todo mundo como alguém que vive nos mundos virtuais é novo no ambiente real, ou seja, noob real (que termo bacana!).

Eu queria conversar sobre isso com as pessoas, como conviver nesse novo mundo que se abre para a humanidade, onde a informática pode integrar tudo, unir, ajudar, humanizar, não necessariamente falar sobre SL ou mundos virtuais, mas sobre humanos que desfrutam da tecnologia que alcançaram. Sei que não existe conversa mais chata que a de dois nerds ou dois adolescentes falando de jogos, mas temos que admitir que eles estejam mais antenados no mundo que aqueles que sabem tudo sobre a política local, porque em alguns anos eles comandarão as ferramentas que realmente decidirão a corrida política.

Bom, enquanto essa época não chega, eu tenho que me atualizar antes de querer novamente passar um fim de semana “normal”. Isso é fácil, abro alguns sites e já saberei tudo sobre as mulheres, futebol e a politica, porque essas coisas nunca mudam na RL. As mulheres não trocam a shape, os jogadores de futebol não trocam as animações e os políticos continuam vestindo aquela skin freebão de demagogia. Bom, só sei que me senti meio como aquele peixe que foi na marra para fora da água, viu umas bestas rindo e achando-se o máximo e voltou para a água com a certeza que lá é o seu lugar, entre os peixes.

Por isso, podem fazer milhares de programa contra a internet, por que isso não vai impedir que ela tire cada vez mais a dependência da sociedade em relação à mídia televisiva. .  No fundo essa é a grande verdade, desde a inserção da internet na vida das pessoas, a sociedade vem modificando sua rotina numa velocidade nunca vista na historia. Hoje são milhões de pessoas que não se limitam mais a uma só versão de qualquer fato e nem perdem seu tempo vendo bobagens na frente da TV. Se esse processo já está marcante no Brasil, imagina nos países mais avançados tecnologicamente. O jeito que eles encontram de tentar contra atacar é disseminar a idéia que a vida virtual é a besta do apocalipse, o Satanás tecnológico, o terrorista invisível.

Olha, pode até ser que a consciência doa de vez em quando por não estar gastando meu tempo livre em outras coisas, mas que primeiro me ofereçam coisas que valham a pena (até que a mulher do vizinho vale a olhada, mas inda é pouco). Por enquanto ainda acho que o Honny não fica bem com skin vermelha, chifre (nunca, hunf!) e rabo, nem de roupa de Xiitas, então não saímos nem ele de dentro nem eu da frente do PC.

Paz e bem a Todos J

Obs* Quanto ao clipe da Musica da Crônica, ridículo é a tristeza.

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