SL GAME Fases

      Todos nós que já estamos secondilifeando a algum tempo temos duas coisas que nos tira do sério rapidinho. Uma é quando alguém que já é veterano chama o avatar de boneco, principalmente se for o nosso avatar. Como eu tinha esse costume, não posso nem mandar o sujeito viajar para todos os lugares que meu repertório de palavrões pode indicar, mas que eu enlouqueço quando chamam o Honny de boneco, Arrrgggg! A outra coisa é quando alguém chama o SL de jogo, caramba, dá nos nervos, arrepia ate os pelos da skin do Honny.

        Assistindo uma palestra do Phillip Linden (RL claro) no youtube, estranhei ele chamar o Second Life de jogo algumas vezes, e fiquei meio desconfiado se eu não estava errado em achar o SL muito mais que um simples jogo. Fiquei matutando como seria se o SL fosse um jogo. Lembrei que na primeira vez que entrei fiquei procurando onde estava o placar e perguntei para a pessoa que estava me ensinando: _ poxa, não acho os coraçõezinhos para saber quantas vidas eu tenho (que mico).

         Sabe gente, minha preocupação era razoável, porque eu sempre fui horrível em jogos desde infância e não ia conseguir usar aqui a batida frase: infeliz no jogo, feliz no amor, que me acompanhou como desculpa predileta para minha falta de habilidade ou sorte por toda vida, em tudo que envolvesse esporte, jogo ou qualquer competição. Acho que minha única vitória esportiva foi a corrida de espermatozoide, porque de lá para cá nunca mais. Nas brincadeiras infantis não ganhava nem amarelinha, nunca acertava quem ficava com o anel, e engalhava o pé na corda no segundo pulo. Não fazia gol nem em goleiro estrábico, porém ele fazia se o goleiro fosse eu.

         Mais tarde colecionei toneladas de sucata de aviões abatidos no Atari e acho que era o único jogador que conseguia ser driblado pelos ridículos pininhos do game de futebol. No  Nintendo e no SNES, o coitado do meu Ninja deve fazer terapia até hoje para resolver os traumas de ser abatido na primeira fase e depois no mega drive o bonequinho do Rambo já tava até careca de tanto apanhar. Quando vi o Playstation pensei que fosse melhorar, que nada, afundei todos os times para terceira divisão e  a Terra foi devastada, invadida, tomada pelos zumbis, porque nunca consegui defende-la além da segunda fase de nada.

        Então antes de me apaixonar pelo SL precisava entendê-lo para não ser mais um caso de coração partido ou pé na bunda virtual. Assim imaginei como seria o SECOND LIFE – O INICIO DE TUDO. Abre o jogo e você depois de alguns créditos se depara com o seu herói que vem com uma roupinha horrorosa um corpinho anêmico, uma pele desidratada, um cabelo ridículo e uma cara de bobo, sem contar o segundo nome estrambólico que escolhíamos antes (pior ainda é ser residente) e pior,  sem um tostão quebrado. Nada atraente o nosso herói. Pelo menos as meninas nasciam melhorzinhas, meio tribufu é verdade, mas já com alguma curvinha. Assim entramos na primeira fase...

           O PARAISO NOOB

         Bom essa fase consiste em nosso herói aprender a andar pelo SL e aprender a se arrumar razoavelmente, e para isso o pobre vagueia pelos freebões, angariando tudo que vê pela frente, desde roupas até escadas de incêndio, curtindo o prazer do clica e aceita. Porém não é só flores no caminho não, pois tem as terríveis armadilhas que o fazem ficar horas num buraco ou no fundo de land sem saber sair. Depois de muito esforço ele descobre como correr pular e voar, o que o faz pensar que é super-homem. As meninas nessa fase sofrem muitos assédios e os rapazes sofrem por não poder assediar.  Outro desafio do nosso herói é não ser vítima de bulling dos mais velhos, aliciado pelos copybooteiros ou passar a fase sem pegar nenhum script que o deixe parecendo um louva-a-Deus virtual. Trapaça só se conseguir chegar a uma land de ajuda que dê alguns atalhos. Se aguentar algumas semanas sem virar um Huck, sem pedir 5000 amizades e sem explodir o inventario ele passa de fase. Vivaaaaa!

           O CARA

             Nessa fase o nosso herói tem duas coisas na cabeça, ganhar dinheiro e apertar bolinhas. Ele antes caia nas armadilhas dos camps e ficava plantado como um poste o dia inteiro pra ganhar uns trocados, mas agora o desafio é aprender a comprar lindens sem levar um calote e conseguir trocar o shape troglodita (o meu chamava super-esteróides L), angariar amigos legais e comprar um anexo sexual. Então de posse dessas Keys ele consegue o primeiro grande bônus: apertar umas bolinhas e fazer o primeiro Hot! Nosso herói fica se achando, o painel de vida cheinho e ele se achando mais bonito que bunda de miss. O grande desafio é conseguir fazer a verificação de idade e abrir os portais das lands adultas. As meninas conseguem abrir as portas dos shoppings e satisfazer todos os seus desejos consumistas. Assim ele passa a terceira fase:

           MUNDOS DA PAIXÃO

             Agora nosso herói ou heroína tem que ser um galinha inveterado, pegando até dengue virtual, e sendo a azeitona da empada. Roupas enfeitadas, tattos enormes e cabelos que parecem um estoque de laquê, ele vai explorando o SL em busca de bônus e mais bônus, angariando amigos de toda espécie e já andando em tribos de semelhantes. O Desafio nessa fase é não esquecer que existe RL e que o avatar é uma fantasia. Muitos jogadores desistem por não conseguir passar pelo grande desafio: a primeira paixão virtual. Realmente difícil esse desafio dotado de várias botas que atacam nosso herói distribuindo doídos pontapés. Passando vivo por essa fase encerra a primeira parte do jogo.

        As outras fases são de múltipla escolha, com roteiros alternativos, porém cheias de desafios dificílimos, monstros que parecem ter saído de uma infernal imaginação. Alguns deles são: O Terrível Julgador RL, monstro que quer deprimir nosso herói apontando seus dedões de raio lazer e gritando ‘você é um alienado’, “isso é bom para quem é ruim da cabeça!”; A Legião Deprê, demônios alados que querem prender o herói e sugar sua energia, secando até o último coraçãozinho, O SuperMalamado, que tenta abraçar nosso avatar com seus tentáculos cheio de energia paranóica, que leva a explodir o saco da Shape. E muito outros. É ir perseverando e não deixar dar game over.

       Tá bom , tá bom... vou parar de viajar. Até porque o importante aqui é pensarmos se o SL é um jogo ou um site de relacionamentos. Andei perguntando a muito avatar por aí o que eles consideravam, e somente quem tinha poucas semanas de SL considera um jogo. Perguntei  por que achavam que era um jogo, e a resposta super esclarecedora era: _por que é, ora. Eu insistia e a resposta melhorava: _por que a gente joga, uai. Eu partia para encher o saco e vinha finalmente algo de substância: Honny, você não vê que é a gente que mexe o bichinho “pra lá e “pra cá”! L Ok, me dou por convencido.

       Gente, o fato de mexer o “bichinho” a nossa vontade por entre mundos, lugares, tribos, baladas etc é apenas uma parte do SL, e uma parte pobre até, porque graficamente o SL é bastante limitado e vamos torcer para o mesh remexer (trocadilho besta) isso. O apelo 3D se torna importante por permitir que um secondilifeano possa criar partes de seu mundo dentro do ambiente, e possa dar um realismo maior ao simulador de uma vida real. Porém, entendam outro aspecto: atrás de cada “bichinho”tem um ser humano, carregado de experiências, vivências, problemas e alegrias, virtudes e defeitos, ou seja, tem um ser em atividade e eles estão trocando figurinhas, crescendo através do convívio, através do interagir e do conversar.

        Não é como no Msn que no máximo que você pode interagir visualmente é através daqueles irritantes emoticons que ficam fazendo careta e pulando na tela. No SL você está demonstrando a qualidade da sua fantasia ao outro, e esqueça se pensar que esta enganando alguém, até pode por pouco tempo, mas logo cai sua máscara porque imaginação e fantasia é totalmente diferente da mentira, e não conseguem conviver juntas. Pena que tantas pessoas não sacam isso e continuam dizendo a si mesmas dezenas de coisas enquanto todos sabem que não é nada disso. É aquele famoso “você mente o que você é e eu finjo que acredito” que não sei o porquê, mas é regra de ouro no SL.      

        O SL é um local de relacionamento sim, indo para o status de rede social, não porque tem Avatares ou personagens, mas porque tem gente e onde gente se reúne em grande número para ser ator e não plateia não é jogo, é se relacionar. Você pode ate dar e receber uns tirinhos ou umas espadadas na costela, mas é uma opção, como os joguinhos do Orkut ou Facebook. Eu nunca corri como como o Sonic, pulei como o Mario ou briguei como o Sub Zero, mas converso mais que o homem da cobra (existe isso ainda?) e me relaciono, não com avatares, mas com pessoas amigas por trás dos avatares. Quando começamos a entrar na pilhas dos que têm titica emocional na cabeça e começamos a encarar o SL como um jogo, começam as paranóias do SL. Tendemos a achar que somos 007 e todo mundo é um assecla do Dr. No.

        Então, na boa, vamos nos relacionar como gente, de preferência, gente civilizada e educada, que respeita o outro, se respeita e se dá ao respeito. Já que na RL não conseguiu isso, quem sabe no SL consiga.

                 ...........Game over............

                                                                    Paz e Bem a Todos!

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